Texto: FÁVERO, Leonor L. ANDRADE, Maria Lúcia C. V. AQUINO, Zilda G. O. Oralidade e Escrita: perspectivas para o ensino da língua materna. 6 Ed., São Paulo: Cortez, 2007.
Observando a história da língua podemos observar que a escrita sempre foi mais valorizada do que a fala e por isso não há muitos relatos históricos de descrição de como era a fala.
A atividade conversacional é caracterizada por um ou mais interlocutores que oscilam entre si a posse da fala trocando idéias sobre determinado tema de forma democrática. Essa atividade pode ser relativamente assimétrico onde um interlocutor é privilegiado no uso da língua ou começando o diálogo.
A atividade relativamente simétrica os dois interlocutores tem o mesmo direito de tomar a palavra, escolher o tópico de discurso, etc.
A conversação tem alguns elementos fundamentais que são: a realização, a interação e a organização.
Ventola caracteriza as conversações espontâneas segundo algumas varáveis:
- Tópico ou assunto – é o tema da conversa onde são abordados os relacionamentos sociais abrindo e mantendo o canal de comunicação.
- Papéis dos participantes – são os tipos de discursos que usamos em determinadas situações sociais e o modo singular que escolhemos palavras para desempenhar os vários papéis que temos nessa sociedade.
- Meio – é por onde a mensagem é transmitida se por telefone, face a face, internet, etc.
Algumas características do texto falado é pelo menos dois falantes, ocorr~encia pelo menos de uma troca de falantes(senão é um monólogo), presença de uma sequência de ações coordenadas, execução de uma determinado tempo, envolvimento em uma interação centrada.
Dittaman caracteriza o texto falado com a interação de dois interlocutores onde deve haver um equilíbrio de forças e uma troca de idéias, pois a fala não pode ficar em uma pessoa. Devendo ter uma seqüência de ações para não fugir ao tema ocorrendo as digressões. O texto falado é executado em um determinado tempo e tem o foco em um assunto.
E, Dittaman afirma que para participar de atividades dialógicas o interlocutor precisa ter habilidades que transpõe o âmbito gramatical e que tem propriedades diferentes dos textos escritos.
A estrutura do texto falado se dá em dois níveis:
- o nível local – é estabelecido na conversação através de turnos que se alteram entre os interlocutores.
Quando a fala é estabelecida por turnos um interlocutor condiciona a resposta do outro como por exemplo convite-aceitação, pergunta-resposta. Diante das perguntas o interlocutor vai direcionando o tema da conversa.
De acordo com a primeira fala a segunda segue com uma resposta simples ou uma mais elaborada.
Ex.: — Você foi à pizzaria?
— Não.
O nível global ocorre junto com o local mas há uma norma de organização para que valorize o tópico do discursivo.
Há os turnos que vão se ampliando no universo da conversa, ou seja, um assunto puxa outro assunto.
Ex.: — Você foi ao cinema ver o filme que te indiquei?
— Fui, mas não gostei muito.
— Por quê?
— O filme não retrata o que lemos no livro...
— Mas o livro é muito objetivo.
A coesão e a coerência no texto falado é tratado de uma forma específica, diferente do texto escrito.
A coesão referencial trabalha na retratação do mesmo item lexical, ou seja, usa as repetições para retomar um item falando a mesma palavra que podem ser substantivos, pronomes etc.
Ex.: — Acordei pela manhã e fui ao mercado comprei carne quando cheguei em casa tive que voltar ao mercado porque esqueci de comprar tempero.
A coesão recorrêncial diz uma mesma coisa de uma produção textual com suas palavras.
Ex.: — Ah! Ele está com enxaqueca.
— Sim, ele está com dor de cabeça.
A coesão seqüencial é vista a partir do uso dos conectores como conjunções e preposições.
Ex.: — Eih! Você foi ao....ao circo?
— Fui, teve um espetáculo de...de...fogo que...fiquei com medo.
O turno é quando o interlocutor está com a palavra produzindo-a enquanto fala. Para haver os turnos tem que ter troca de falantes, falando um de cada vez, tendo breve ocorrência de mais de um falante.
O turno não tem ordem fixa, a extensão da conversa não é previamente especificada, a distribuição do turno e o número de participantes da conversa é variável.
Ex.: — O dia está quente!
— Ah! Eu não acho. Estou com frio.
— Você deve estar doente!
O tópico discursivo acontece num contexto situacional sistematizando a conversa e é a parte central do processo dinâmico da conversa.
Algumas propriedades do tópico discursivo são a centração que é o conteúdo da conversa o foco no assunto, o interesse dos interlocutores. A organicidade que é a seqüência sistematizada da conversa. Delimitação local onde ocorre o início, desenvolvimento e finalização da conversa, pois dependendo do local um assunto não é tratado da mesma forma que seria em um ambiente mais reservado e com um tempo maior de disponibilidade.
Ex.: — Diante dessa crise econômica, a empresa que trabalhei demitiu 100 funcionários.
— É uma crise que afetou todos os setores....
Os marcadores conversacionais servem para destacar elementos verbais e não verbais da conversa. Há elementos que não são lingüísticos que caracterizam a fala face a face que são os gestos, o olhar. A gesticulação.
Há elementos prosódicos muito peculiares da fala que não são de caráter verbal, mas lingüísticos são as pausas, os alongamentos, o tom de voz, as hesitações.
Marcuschi apresenta alguns marcadores: os simples – realizado com uma palavra (interjeição, conjunção); o composto – caracterizado por dois componentes (ex. então ta, quer dizer..); oracional que são as pequenas orações em variados tempos e formas verbais (eu acho que, digamos que..); prosódicos são as entonações, pausas, tom de voz.
Ex.: — Fui ao restaurante ontem mas.....
— Mas o quê?
— Não gostei da ....comida que dizer da carne.
O par adjacente é uma forma de se estabelecer o diálogo, como por exemplo pergunta-resposta, saudação - saudação, pedido - concordância e são usados para iniciar uma conversa
Ex.: — Bom dia
— Bom dia, como vai?
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